Fonte: http://www.jcnet.com.br/
Automedicação no Brasil
6 de maio de 2014
1 comentário
Quase um terço (32%) dos brasileiros que se automedicam
costuma aumentar a dose do remédio por conta própria, sem orientação do médico
ou do farmacêutico.
Brasil: 76% se medicam sem consultar especialistas
É o que revela pesquisa inédita do ICTQ (instituto de
pós-graduação para farmacêuticos) feita em 12 capitais do país. Foram ouvidas
1.480 pessoas com 16 anos ou mais que consomem remédios.
O estudo, que será divulgado amanhã, aponta que a
automedicação é praticada por 76,4% dos brasileiros. SALVADOR (96,2%), RECIFE
(96%) e MANAUS (92%) lideram o ranking. Na cidade de SÃO PAULO, a taxa é de
83%.
"Todo mundo sabe que o brasileiro consome muito remédio
indicado pela família, amigos e vizinhos, mas foi um choque saber dessa
quantidade de pessoas que aumenta a dose por conta própria para potencializar o
efeito", diz Marcus Vinícius Andrade, diretor de pesquisa do ICTQ.
Para Pedro Menegasso, presidente do CRF (Conselho Regional
de Farmácia) de São Paulo, as pessoas não fazem ideia do risco que correm ao se
automedicar ou duplicar a dose de um remédio.
"É extremamente perigoso, por exemplo, a mãe dar para
criança dois comprimidos de 750 mg de paracetamol no mesmo dia. Ou as pessoas
usarem muitas gotas de descongestionante nasal."
O aumento na quantidade de medicamentos além da dose
recomendada pode trazer vários problemas, como alergias, hemorragias e graves
lesões no estômago e no fígado, alerta Paulo Olzon, professor da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo).
Antiinflamatórios usados sem critério, por exemplo, podem
causar contração dos vasos, retenção de sódio e água (elevando pressão
arterial) e sobrecarga no coração.
Olzon conta que só na última semana diagnosticou dois
pacientes de classe média com sintomas de intoxicação medicamentosa por uso
indevido de corticoide.
"Um senhor tomava um remédio receitado pelo pai de
santo, era cortisona. Estava todo inchado. Outra mulher comprava um remédio
pela internet, também corticoide, que causou supressão total da hipófise e da
tireoide", diz.
Os medicamentos são os principais agentes causadores de
intoxicação no país, à frente até de agrotóxicos. Respondem por quase 30% dos
registros, segundo o Sistema Nacional de Informações Toxico-Farmacológicas.
"A mãe dá 30 gotinhas para para tirar a febre, depois
dá mais 30 e a criança acaba no pronto-socorro", afirma Dirceu Raposo de
Mello, professor de farmácia da Universidade Anhembi Morumbi.
Ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária), Mello está coordenando um trabalho acadêmico sobre o tema e diz que
é grande o vácuo de dados sobre as intoxicações.
Para Dirceu Raposo, além de um sistema de controle falho, há
uma grande falta de educação do brasileiro para o uso racional de remédios.
Conscientização
"O problema maior é cultural. O medicamento é
banalizado, ninguém fala o quanto ele pode ser perigoso", diz Menegasso.
Além das intoxicações, o mal uso de remédios pode mascarar sintomas e agravar
doenças, diz.
A pesquisa também aponta que o controle imposto pela Anvisa
sobre determinados medicamentos já começa a surtir efeito. Apenas 8,2% das
pessoas entrevistadas declararam consumir medicamentos tarja preta ou tarja
vermelha (aqueles com retenção de receita). Em 2012, eram 20%.
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