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Água com quiabo não cura diabetes

14 de janeiro de 2014 comente
Juliana Conte

A SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) emitiu um alerta sobre uma suposta cura para o diabetes, doença que, somente no Brasil, mata quatro vezes mais que a Aids. A entidade declarou que vê com grande preocupação e grande potencial maléfico a divulgação por grandes veículos de comunicação de formas “alternativas” de tratamento sem qualquer base científica.

A preocupação surgiu depois que um grupo de estudantes ganhou visibilidade com um experimento que seria uma alternativa natural ao tratamento convencional de diabetes. Exibida em um programa de televisão, a invenção promete ajudar na diminuição dos níveis glicêmicos com apenas uma mistura de quiabo com água. Por conta da iniciativa, os adolescentes levaram um prêmio de R$ 30 mil.

A repercussão preocupante veio em seguida. Mesmo com o apresentador ressaltando que a experiência era apenas um começo e não havia evidências científicas por trás da pesquisa, começou a circular na internet postagens afirmando que as medicações para controlar o diabetes podiam ser substituídas pela água com quiabo. Em uma página do Facebook , foi compartilhada mais de 300 mil vezes a receita de como fazer o “medicamento”:  ”corte as pontas e o fundo de dois quiabos, coloque em um copo com água e deixe dormir, no outro dia retire os quiabos e tome a água. Diabete vai sumir e suas injeções nunca mais…Tudo foi Deus…Quem criou [sic]. Testado em seres humanos, os resultados, segundo o Caldeirão, foram, assim, milagrosos! Uma voluntária disse que a glicemia baixou de 300 para 150. Outro, que caiu de 195 para 94 (…)”.

O trabalho dos estudantes derivou de uma pesquisa recente da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) segundo a qual uma população de camundongos foi alimentada, por um determinado período, com farinha de quiabo. Nesse intervalo, observou-se uma melhora dos níveis de glicemia destes animais. Desde 2012, os jovens começaram a pesquisar os efeitos do vegetal no organismo e com ajuda da professora de química adaptaram a farinha do quiabo pela baba do alimento misturada com água.

Eles conseguiram oito voluntários para participar da pesquisa e acompanharam o processo de perto por mais de três meses. Os indivíduos tinham que medir a glicemia todos os dias e fazer exames laboratoriais a cada mês. O resultado foi que os índices glicêmicos de todos os participantes diminuíram,  mas nenhum deles deixou de tomar remédio enquanto participava do teste.

O médico Walter Minicucci, presidente da SBD,  apesar de aprovar a iniciativa dos estudantes mineiros em prol da população diabética, esclarece que não é possível largar os medicamentos e a insulina por água e quiabo. “É elogiável o esforço dos meninos e da professora, mas do ponto de vista de experiência científica ainda falta muita coisa. Nós ficamos preocupados com a repercussão, por isso não dá para sair dizendo para as pessoas que tomando isso elas estarão curadas. É preciso comparar, fazer testes com uma amostragem maior. Por mais que apareçam indivíduos dizendo que os níveis diminuíram, tem aquela história na medicina chamada efeito placebo. Para se chegar a uma conclusão, são necessários inúmeros testes e que durem anos”, explica.

Há um motivo para esse vegetal em específico ter aparecido como uma opção de tratamento. É preciso lembrar que o quiabo é um alimento com alto teor fibras. “Uma dieta rica em fibras diminui a absorção de carboidratos, assim os níveis glicêmicos sobem menos. Além disso, ingerir fibras dá aquela sensação de saciedade, logo, você não fica com tanta fome”, afirma o especialista. Por volta de 2006, segundo o endocrinologista, foi a  batata yakon que ganhou a fama de benéfica aos diabéticos pelo mesmo motivo.


Mesmo com tais benefícios, ele ressalta que não dá para substituir a medicação somente por essa dieta. “Se a pessoa quiser usar, aparentemente não há nenhum efeito nocivo, mas por favor, não deixe de usar os medicamentos e faça a medição da glicemia regularmente. O que realmente dá resultado é uma alimentação balanceada, perder peso e fazer algum exercício físico três vezes por semana”.
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