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Homem também sofre com o câncer de mama

12 de novembro de 2009 comente
LONGEVIDADE

Estudos mostram que história familiar positiva para câncer de mama, representa 30% dos casos de câncer de mama em homens

Com relação ao tratamento clínico, são semelhantes aos indicados para mulheres

O câncer de mama em homens, quando diagnosticado, causa grande impacto sobre o paciente devido ao preconceito e falta de informação. Como ele é pouco conhecido, como perceber se há alguma anomalia na região das mamas masculinas?
“O diagnóstico do câncer de mama masculino não difere do câncer de mama feminino. Os principais sintomas estão relacionados à presença de um nódulo ou endurecimento que, na maioria das vezes, acomete uma das mamas. São raros os casos bilaterais, ou seja, que afetam ambas as mamas. Pode ocorrer ainda dor, ulceração na pele ou mesmo sangramento pelo mamilo em casos mais avançados. Em algumas situações, o câncer de mama masculino costuma aparecer como um nódulo atrás da aréola, indolor, firme, de tamanho variado, e que pode causar retração ou deformidade desta região”, conta a Dra. Cláudia Maria Aldrighi (CRM-SP 97957), ginecologista-obstetra pela FMUSP, mastologista especialista pela Sociedade Brasileira de Mastologia, Membro do Núcleo de Mastologia do Hospital Sírio-Libanês e Membro do corpo clínico dos Hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein.

Com relação ao tratamento clínico, são semelhantes aos indicados para mulheres: cirurgia localizada, radioterapia, quimioterapia e, nos casos mais graves, a mastectomia radical (retirada da mama). Na mulher, é possível realizar a reconstrução mamária, proporcionando a esta paciente maior qualidade de vida e menos impacto no aspecto emocional, estético, social e profissional. O homem que é submetido a uma cirurgia para retirada da glândula mamária também pode se beneficiar com esta técnica de reconstrução.

“Na grande maioria dos casos realiza-se a reconstrução local, com técnicas cirúrgicas que envolvem retalhos e a reconstituição da aréola e papila, proporcionando ao homem uma aparência estética satisfatória para a região operada”, esclarece Dr. Alexandre Mendonça Munhoz (CRM-SP 81.555), médico especialista em cirurgia plástica de mama e oncoplástica, Membro Especialista e Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Membro Consultor do corpo de revisores internacionais das revistas americanas Annals of Plastic Surgery e Plastic Reconstructive Surgery, Membro do Corpo Editorial da Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, além de integrar o corpo clínico dos Hospitais Sírio-Libanês, Albert Einstein, Fleury, Oswaldo Cruz e São Luis.

Como o assunto envolve muitos detalhes, os dois especialistas falam sobre os pontos primordiais que envolvem o assunto, na entrevista abaixo. Confira.

1- Por que homens podem desenvolver o câncer de mama?
Dra. Cláudia Aldrighi: O câncer de mama se origina a partir do crescimento desorganizado e sem controle de células presentes no tecido da glândula mamária. Como o homem também apresenta estas células, porém em menor quantidade, existe a possibilidade de desenvolver o câncer de mama idêntico ao que ocorre com a mulher. Todos os tipos histológicos de câncer de mama já foram descritos em homens. Semelhante ao que ocorre no sexo feminino, o carcinoma ductal invasivo é o tipo histológico mais comum (80% dos casos). Já o carcinoma lobular é mais raro, pela ausência de estruturas lobulares na mama masculina.

Entre as causas principais do câncer mamário no sexo masculino podemos citar as alterações genéticas, hormonais, drogas e efeitos externos. Alguns estudos mostram que até 80% dos casos de câncer de mama no homem está associado com mutações do gene BRCA-2. Para os homens que têm esta mutação, a estimativa de risco durante toda a vida de ter câncer de mama chega a 6%, um valor ainda baixo se comparado ao das mulheres que tem a mutação do mesmo gene. Outro dado que corrobora com a hipótese genética é a presença de casos prévios de câncer na família. Alguns estudos mostram que história familiar positiva para câncer de mama, representa 30% dos casos de câncer de mama em homens. Outros fatores também estão associados a um risco aumentado. Entre estes podemos salientar a estimulação hormonal por estrógenos, etilismo (pela diminuição da função hepática e aumento dos níveis de estrógeno), cirrose hepática e exposição a radiação ionizante. A síndrome de Klinefelter (46, XXY) determina um aumento de risco de 20 a 50 vezes no homem acometido. Esta síndrome é decorrente de uma alteração genética em indivíduos do sexo masculino que se caracteriza por: infertilidade, desenvolvimento de mamas (ginecomastia) e características sexuais masculinas pouco desenvolvidas.

Há ainda maior incidência de câncer de mama nos pacientes com câncer de próstata submetidos à terapia estrogênica e nos transexuais que recebem estrógenos com objetivo de feminilização. Nestes casos, a dose excessiva de estrógeno pode levar a proliferação das células da glândula mamaria predispondo, assim, ao desenvolvimento do câncer. Outros fatores descritos como traumatismo local e a presença de ginecomastia não apresentam estudos científicos relacionados à causa de câncer mamário em homens.

2- Qual a incidência da doença com este público? A partir de qual idade ela pode aparecer?

Dra. Cláudia Aldrighi: O câncer de mama é uma doença rara nos homens. Ele representa 1% de todos os casos de câncer de mama e 0,17% a 1% de todas as neoplasias malignas masculinas. Dados provenientes do INCA (Instituto Nacional de Câncer) mostram que a proporção entre homens e mulheres é de 1 caso masculino para cada 100 casos femininos (1:100). Quanto à faixa etária de maior acometimento, a idade média de apresentação do câncer de mama no homem é pouco mais elevada que a da mulher e é de 64 anos.

3- Como é feito o diagnóstico? O auto-exame é igual? Como o homem pode detectar alguma anormalidade em sua mama?
Dra. Cláudia Aldrighi: A maneira mais eficaz para detecção precoce do câncer de mama é o auto-exame, o exame clínico pelo médico e a mamografia. A mamografia permanece como o principal método de investigação de imagem. Embora a imagem do câncer de mama no homem seja diferente da que se observa na mulher, existem muitos aspectos semelhantes. Em alguns casos, os tumores pequenos mostram um nódulo de difícil distinção daquele apresentado nas ginecomastias nodulares, se não fosse pela presença de demais sinais radiológicos associados. Entre os principais, o mais constante, por sua maior proximidade, é o edema da pele areolar. Semelhante aos tumores da mulher, o câncer masculino apresenta também sinais típicos de malignidade, como de hiperdensidade com bordas espiculadas. O ultrassom de mama pode ser utilizado como exame inicial no manejo diagnóstico, para auxiliar na identificação de um nódulo retroareolar. O principal diagnóstico diferencial do câncer de mama no homem é a ginecomastia, que é muito mais freqüente e na maioria das vezes bilateral. A biópsia pré-operatória é indicada nos casos de maior suspeita ou como diferencial da ginecomastia.

4- O tratamento segue o mesmo padrão dado para uma mulher?
Dra. Cláudia Aldrighi: O tratamento do câncer de mama no homem, assim como na mulher, depende do estágio em que o paciente se encontra. Assim, para tumores iniciais pode-se realizar apenas a retirada do tumor com margens cirúrgicas e a preservação da mama. Para tumores maiores ou que apresentem vários focos, o tratamento consiste na mastectomia radical modificada, com conservação do músculo peitoral e com dissecção dos linfonodos axilares. Em alguns casos e a depender do estágio tumoral e do comprometimento dos gânglios axilares, há a necessidade de quimioterapia e/ou radioterapia pós-operatória. Alguns estudos epidemiológicos demonstram que o câncer da mama masculina provoca rapidamente o comprometimento linfático. Contribui para isto o fator anatômico de proximidade, com os plexos linfáticos areolares. Tumores de 3 ou 4cm no homem são equivalentes a um comprometimento total da mama feminina. Este fato leva à maior incidência de metástases e pior prognóstico.

5- Na mulher a reconstrução mamária pode ser feita com retalhos de tecido e implante de prótese mamária. No homem, a prótese é desnecessária? Como é feita a reconstrução?

Dr. Alexandre Mendonça Munhoz: Na grande maioria dos casos realiza-se a reconstrução local com técnicas cirúrgicas que envolvem retalhos e a reconstituição da aréola e papila. No homem, devido à sua anatomia torácica, não há necessidade de reconstrução do volume e as técnicas têm como objetivo o melhor resultado estético da região peitoral, o adequado posicionamento das cicatrizes finais e o fechamento da ferida cirúrgica. Por causa da pouca quantidade de tecido mamário no homem, o tumor infiltra mais frequentemente a pele suprajacente e à parede torácica (músculos e costelas). A ulceração através da pele é talvez mais comum que na mulher. Este fato leva a necessidade maior da utilização de retalhos locais ou a distância para fechamento da ferida operatória, em proporção muito maior do que nas mulheres. Devido à característica anatômica da mama masculina, a maioria dos tumores são retroareolares o que leva a retirada desta região durante a cirurgia oncológica. Assim, na grande maioria dos casos realizamos a reconstrução da aréola e da papila em um tempo cirúrgico posterior ao tratamento do câncer devido a limitações técnicas durante a cirurgia do câncer. Estas técnicas envolvem o uso de retalhos locais para a reconstrução da papila e o emprego de micropigmentação (tatuagem) para a reconstrução da aréola.

6- Os homens procuram ou aceitam realizar o procedimento de reconstrução mamária?

Dr. Alexandre Mendonça Munhoz: De maneira geral sim, e tem como objetivo o melhor resultado estético da região, a reconstituição da anatomia local e a reabilitação física e social do paciente masculino. Estudos clínicos demonstram que as necessidades físicas em termos de imagem corporal e qualidade de vida estão presentes em ambos os sexos, sendo que no homem a diferença está na menor incidência e no maior preconceito deste tipo de câncer. Devido a sua incidência mais rara, há um total desconhecimento sobre as causas e tratamento por parte da população leiga. Em alguns casos de tumores mais avançados, há a necessidade absoluta de técnicas de reconstrução onde, sem estas técnicas, muitos tumores seriam inoperáveis devido a necessidade de maior retirada de pele e musculatura. Nesta situação, a reconstrução promove o fechamento adequado da ferida cirúrgica uma vez que não há a possibilidade de fechamento primário.

7- Quais os cuidados que ele deve ter no pós-operatório?
Dr. Alexandre Mendonça Munhoz: Semelhantes ao de qualquer cirurgia mamária. Deve-se evitar esforços e movimentos dos braços e não carregar peso por aproximadamente 20 dias. Seguir as orientações médicas quanto às medicações e controle de curativos são fundamentais. Em, aproximadamente, 30 dias o paciente está reabilitado da cirurgia e da reconstrução.



Alexandre Mendonça Munhoz- Cirurgião Plástico

Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Mestre e Doutor em Cirurgia Plástica na área de Cirurgia Mamária pela HC-FMUSP, Dr. Munhoz é Coordenador do Grupo de Reconstrução Mamária do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Membro Especialista e Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Membro Consultor do corpo de revisores internacionais das revistas americanas Annals of Plastic Surgery e Plastic Reconstructive Surgery, Membro do Corpo Editorial da Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, além de integrar o corpo clínico dos Hospitais Sírio-Libanês, Albert Einstein, Fleury, Oswaldo Cruz e São Luis.

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