1.o Colocado "LONGEVIDADE HISTÓRIAS DE VIDA BRADESCO SEGUROS" 2012

Colaboração do leitor - Dr. David Sergio Hornblas

7 de julho de 2008 comente
SOBRE HOMENS E ANIMAIS


É insofismável a relação entre homens e animais ao longo da historia. Desde os tempos mais antigos, cavalos, camelos, dromedários e cães contribuíram de forma eficaz – embora penosa – para que o homem construísse edificações, ampliasse fronteiras, cuidasse de rebanhos, obtivesse alimentos sem a necessidade do sacrifício deles.

Essas relações caracterizavam-se pelo compromisso no trabalho, muito embora, relações afetivas davam um tempero especial a esta coexistência. Mas nem sempre harmoniosamente: Muitos animais eram maltratados, mal alimentados e não raramente, morriam de exaustão durante o trabalho. Mas sua contribuição foi inegável.

O tempo passou e muitas atividades se mecanizaram, como lavoura e moendas, libertando alguns animais da extrema penosidade do trabalho que executavam. Também o transporte evoluiu e a caça já não mais integra o cardápio moderno com a mesma importância de outrora.

Contudo, outros animais assumiram compromissos no trabalho para auxílio ao homem. Não através da força física, mas, sobretudo com sua capacidade de aprendizagem, sociabilidade e inteligência que a ciência descobriu como eficientes contribuições a serem oferecidas a pessoas com algum tipo de limitação: cães-guia, golfinhos treinados para interação com crianças psicóticas e autistas, símios e macacos que executam atividades ligadas a situações de emergência, cães que farejam pessoas desaparecidas e drogas, dentre tantas outras. Muito embora esses animais cumpram suas “funções laborais” com grande eficiência, um elemento especial se agrega nessa relação: o afeto que se constrói paulatinamente. Ele transcende a questão do trabalho. Não há movimentos de repulsa, a não ser por maus tratos. E os sentimentos de ambos não são dissimulados. Também há sim, momentos de conflito, cuja intensidade é menor se comparada àquelas que ocorrem entre as pessoas. Uma bronca, um falar mais áspero e até um tapa, que não desenvolvem sentimentos de rancor ou ressentimento duradouros.

A relação com o animal é mais simplificada, pois ele é via de regra fruto de uma opção: Ter um animal é uma escolha. O mesmo nem sempre ocorre com uma criança, exceto as adotadas. Mas com animais de estimação é diferente: São adotados, escolhidos, comprados ou até recolhidos nas ruas. Por motivos diferentes, interesses distintos, maior complexidade e outros níveis de responsabilidade, uma opção foi feita. E deve ser, como todas as relações quer construímos ao longo da vida, plenamente respeitada.

A relação entre o homem e o animal é transparente, desinteressada (Sob o significado dado pelo ser humano) e às vezes até subserviente. Todos já tivemos a oportunidade de observar carroceiros miseráveis pelas ruas, muitas vezes acompanhados de seus fiéis escudeiros. Compartilham tudo: a comida, o frio, a falta de moradia e a solidão. Permanecem juntos até a morte de algum deles. Pouco importa se cheiram bem ou mal, se comem decentemente ou não. O mais importante é a relação de profundo amor que caracteriza esta coexistência.

As relações afetivas não se estabelecem por acaso. O encontro das pessoas ocorre pelos motivos mais variados e muitas vezes sob fortes influências sociais que se modificam em função do espírito de cada época. Além disso, desde a mais tenra idade, recebemos alguns parâmetros durante a etapa de formação de conceitos, que nos leva a criar padrões do que é certo e errado, do bem e do mal, do justo e do injusto, etc. Famílias que por exemplo, tem por hábito a convivência com animais, transferem para seus descendentes este valor. Isso não significa obrigatoriamente que, esta criança venha a reproduzir a mesma situação quando adulta. Mas há uma boa chance para isso. Também é fato que, pais ao limitarem a convivência de seus filhos com animais, vão introduzir um elemento referencial importante, quer pode servir de base para o futuro neste tema. Mas e aqueles que não experimentaram nem uma coisa nem outra? Como poderíamos entender tais comportamentos?

Um dado importante pode estar no construto das relações com outras pessoas. É da natureza humana lidar com trocas e afetos intensos, e às vezes, até desmedidos. Cobranças contínuas. Concessões nem sempre possíveis. E não raro, pessoas podem não estar aptas e preparadas para tamanha intensidade de relações. Recolhem-se a si mesmas e muito afeto a ser compartilhado. Outras conseguem estabelecer uma medida exata entre esses dois tipos de relacionamento. Por essa razão, tem filhos, namorado, maridos, esposas, etc e animais. Conseguem repartir o afeto de forma equilibrada. Outras pessoas não dispõem de tal facilidade. Concentram e dirigem seu afeto em uma única direção o que muitas vezes não é entendido socialmente. E freqüentemente criticado.

Mas tenho uma pista para esse movimento humano: animais domésticos cobram pouco. Na maioria das vezes estão disponíveis. Dão pouco trabalho. Reclamam menos ainda. Não falam.

Além disso, seu ciclo de vida é menor. Com isso as pessoas sofrem e se recompõem mais rapidamente diante da perda, estando inclusive prontas para uma nova relação. Talvez seja este um dos motivos para não haver legislação mais severa para agressores de animais, a não ser multas pecuniárias irrisórias.

No entanto, estuda-se hoje, por intermédio do IBAMA, que maus tratos contra animais, podem se tornar crimes ambientais. Com penas mais severas.

Cuidar de um animal é antes de tudo, cuidar de um ser. De certo que se exige algum trabalho, dedicação e acima de tudo afeto.


David Sergio Hornblas
Psicólogo/psicoterapeuta, especialista em desenvolvimento humano. Professor universitário e pesquisador pelo CNPq/PUC-SP.
Musicista e Escritor Amador.

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