1.o Colocado "LONGEVIDADE HISTÓRIAS DE VIDA BRADESCO SEGUROS" 2012

Por que sempre adiamos o momento de dizer o que sentimos?

17 de julho de 2010 3 comentários
Meu pai fez 80 anos. Queríamos dar a ele um presente que fosse mais do que algo que ele pudesse usar. Um que não servisse para nada, a não ser para a vida. Decidimos fazer um livro com cartas de amor. Não as cartas do passado, trocadas entre ele e minha mãe, mas as cartas do presente, que todos escreveriam. Cartas de amor dos filhos, dos netos, da companheira de toda uma vida. Dos sobrinhos mais próximos, dos amigos mais queridos, dos alunos e companheiros de trabalho com quem compartilhou seus ideais mais caros. Cartas de amor, enfim, escritas por quem havia testemunhado sua vida – e se transformado pela sua vida. Só havia uma regra para as cartas de amor: elas tinham de ser ridículas.

Para que ninguém se sentisse desconfortável com o desafio de escrever cartas de amor ridículas, ficamos na companhia ilustre de Fernando Pessoa, com a poesia famosa de Álvaro de Campos: “Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor./ Como as outras, ridículas. As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas./ Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas (...)”.

Encomendar cartas de amor ridículas era um jeito de escapar das cartas laudatórias e de estimular os mais ariscos na demonstração de sentimentos a escrever com o coração ou mesmo com o fígado. Não era um campeonato de quem escrevia mais bonito, mas uma oportunidade imperdível de dizer para o meu pai o quanto cada um o amava, do jeito único que cada um podia dizer, numa história com o meu pai que era só sua.

Conto essa história para que, quem sabe, mais gente se decida a escrever cartas de amor ridículas. Acho que a maioria de nós tem muito a dizer para as pessoas da sua vida, mas adia para algum momento que talvez nunca chegue. Cumprimos horários para tudo, inclusive para o que é bem supérfluo, mas parece que sempre podemos deixar para amanhã dizer às pessoas importantes que, sim, elas são importantes para nós, que trazemos um pouco delas em nossos gestos, nas nossas escolhas, na porção imaterial de nossas células. Só que é arriscado adiar, porque o amanhã é incerteza, só o que temos é o hoje.



Texto na íntegra aqui, vale à pena conferir.
Eliane Brum ( Colunista da Revista Época)



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3 comentários:

Tati disse...

Oi Silvia, fui lendo achando que o texto era seu. Que a ideia era sua! Adorei e fiquei pensando em repeti-la em minha família. Que presente mais lindo!!!!
Adoro dizer que amo, a quem amo, sei que ainda me falta chegar ao ponto das cartas d amor ridículas, mas me empenharei! hehe
Beijos.

Denise disse...

Esse texto veio de encontro a muitas reflexões nessa direção, um verdadeiro presente.
Posso ampliar a divulgação, publicando-o também?

Abraço forte - e emocionado.

Beth/Lilás disse...

Idéia super bacana, original e acho que vou copiá-la um dia para alguém muito querido.
Acho que já fiz sim alguma carta de amor ridícula, mas era tão bonitinha.
bjs cariocas