E o sono, como vai?
21 de outubro de 2014
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Além de afetar a qualidade de vida, distúrbios do sono estão
associados a doenças cardiovasculares.
Cansaço, sonolência, irritabilidade, queda no rendimento e
no nível de atenção, erros de julgamento, dores musculares... Boa parte das
pessoas conhece as consequências de uma noite insone ou mal dormida. O que nem
todos sabem é que distúrbios do sono podem favorecer doenças graves, como as
cardiovasculares.
Na dinâmica acelerada da vida moderna, cresce o número de
pessoas que dormem mal. “Estudos mostram que até 50% da população tem insônia
pelo menos uma vez por semana”, informa a Dra. Stella Marcia Azevedo Tavares,
neurofisiologista e responsável pelo setor de Polissonografia do Einstein. “Estresse,
depressão, ansiedade e maus hábitos como levar trabalho para casa e ficar até
altas horas no computador ou fazer exercícios físicos antes de dormir são
alguns fatores que podem levar à insônia, que é a dificuldade de iniciar ou
manter o sono”, explica. Ela observa que, além dos reflexos negativos de uma
noite sem dormir na rotina de atividades na qualidade de vida, a insônia é
fator de risco para a depressão e a ansiedade. E pacientes que tiveram
depressão têm maiores chances de recaída quando a insônia não é tratada.
Outro problema comum é a sonolência excessiva provocada pela
privação do sono, mal que não se confunde com a insônia. Na insônia, o
indivíduo quer dormir, mas não consegue. Já a privação diz respeito a pessoas
que, em função da rotina de trabalho, da agenda social ou até para “malhar”
antes do expediente, reduzem as horas de sono, mas dormiriam mais se pudessem.
O organismo se ressente desse deficit. “Nem todos precisam dormir as oito horas
regulamentares. Para alguns, bastam menos horas; outros precisam de mais. Mas,
para mais ou para menos, é preciso dormir o tempo de que o organismo necessita.
Só assim o indivíduo vai acordar descansado e disposto”, completa a Dra.
Stella.
Outro vilão que está por trás da sonolência é a apneia obstrutiva
do sono, bastante associada à obesidade e geralmente acompanhada de ronco.
Trata-se de uma obstrução das vias aéreas que gera interrupções na respiração,
podendo ocorrer até centenas de vezes ao longo da noite. “Além de afetar o
sono, a apneia está associada a riscos cardiovasculares. Um importante estudo
realizado na Espanha e publicado em 2005 na prestigiada revista científica
Lancet comprovou que os apneicos estão mais sujeitos a eventos cardiovasculares
fatais e não fatais. Quando o distúrbio é tratado, a taxa se iguala à dos
demais pacientes”, informa a Dra. Fatima Dumas Cintra Luiz, cardiologista e
coordenadora técnica do Centro de Arritmia do Einstein.
Após esse estudo pioneiro ter demonstrado fortes evidências
da relação entre o sono e a saúde cardiovascular, outras pesquisas vêm sendo
desenvolvidas a fim de aprofundar os conhecimentos em relação desse binômio que
alçou a apneia a fator de risco cardíaco, assim como o tabagismo, o colesterol
alto e vários outros.
Como acontece esse processo? “A apneia desencadeia
mecanismos que tornam os indivíduos mais suscetíveis ao aparecimento de
arritmias cardíacas, em especial a fibrilação arterial, hipertensão arterial e
insuficiência coronariana”, explica Dra. Fátima. Segundo ela, um trabalho mais
recente associa a apneia também à morte cardíaca súbita.
Outro dado agrava esse cenário: a apneia está cada vez mais
presente na população. Um estudo feito na cidade de São Paulo por um grupo de
pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) constatou que 33%
dos paulistanos sofrem desse mal. Há 10 anos, o índice era de aproximadamente
6%.
O envelhecimento da população e o maior índice de obesos são
alguns fatores que explicariam essa evolução. O perfil clássico do apneico é o
homem de meia idade acima do peso e a mulher após a menopausa. Todavia, homens
e mulheres de qualquer idade, inclusive os magros, podem ter apneia. O problema
pode estar relacionado a questões anatômicas e funcionais – como nariz muito
fino, língua muito grande, queixo muito curto, etc. Alguns comportamentos
também podem interferir, como o hábito de ingerir bebida alcoólica à noite para
descontrair depois de um dia estressante de trabalho. A bebida provoca o
relaxamento muscular, favorecendo o ronco e a apneia.
O primeiro passo para cuidar dos distúrbios do sono é
reconhecê-los. Muitas vezes o indivíduo ignora a gravidade que o problema pode
ter ou sequer o identifica. “Há uma crença generalizada de que quem dorme bem é
aquele indivíduo que deita e dorme. É um erro acreditar nisso. Esse dormir
imediato pode ser um indicador de sonolência. Tem gente que diz que não tem
problema de sono, argumentando que onde encosta dorme. É aí que está o perigo”,
diz a Dra. Stella. “Dorme bem quem acorda disposto e descansado porque teve um sono
reparador. É de manhã e não à noite que percebemos se nosso sono é bom”,
completa a Dra. Fátima. Sonolência, ronco e cansaço são sinais que precisam ser
investigados.
Para o diagnóstico, os médicos, além da consulta clínica,
podem solicitar exames como a polissonografia, que monitora diversas variáveis
fisiológicas (níveis de oxigenação, batimento cardíaco, movimentos
respiratórios, etc.) enquanto o paciente dorme.
O tratamento dos problemas do sono é preferencialmente não
medicamentoso. Para a apneia, especificamente, usa-se o CPAP (Continuous
Positive Airway Pressure), um pequeno compressor que injeta ar nas vias aéreas
do paciente, impedindo que elas se fechem. E há uma receita que traz benefícios
para todos os tipos de distúrbios do sono: bons hábitos. Fazer exercícios
físicos até 4 horas antes do sono, combater a obesidade, optar por uma
alimentação leve e sem ingestão de álcool antes de dormir e não dormir de barriga
para cima são práticas que ajudam a ter uma boa noite de sono – o que é sempre
um ótimo remédio para a saúde e para o bem-estar
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