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Relacionamentos efêmeros - Luciana Campaner

8 de setembro de 2009 2 comentários


Uma grande questão da atualidade é descobrir por que a magia romântica diminuiu apesar de toda liberdade sexual que conquistamos. Parece que o amor se dissolve na mesma velocidade da vida dinâmica, que ficou atrelada à vertiginosa era da alta tecnologia. O ato de "ficar" com várias pessoas sem que se mantenha compromisso duradouro está mais do que na moda. Aliás, o mundo está totalmente inserido nessa idéia, uma espécie de conexão interminável de pensamentos e vivências breves e intensas, mas inegavelmente superficiais. A vida fica parecendo um produto tão efêmero, tão descartável. O tom é a pressa e a superficialidade dos contatos afetivos e sociais.

O filme irlandês Goldfish Memory , que em português leva o título Todas as Cores do Amor, escrito e dirigido por Elizabeth Gill, trata justamente dos relacionamentos contemporâneos, livres, breves e intensos. O título tem um motivo. Um dos personagens do filme explica que a memória do peixinho dourado dura apenas três segundos, por isso, depois de dar uma pequena volta no aquário, tudo será novo. O mesmo se dá com os personagens ao longo da trama, que se encantam e se desencantam em uma rapidez espantosa, terminando uma relação e, imediatamente, dando início à próxima, sempre com o intuito de viver, ao máximo, cada uma delas. E nesse universo onde nada é proibido, em que se deve dizer "sim para a vida, sim para o amor, sim para o prazer", qualquer demonstração de apego se torna estranha, anormal e até intimidadora.

Deste modo, o valorizado é a pressa. As pessoas se envolvem em um viver frenético e as realizações assumem um papel prioritário. Não há tempo para conhecer, ouvir e ser ouvido pelo outro. O homem atual raramente se conecta verdadeiramente com o outro, ele simplesmente conhece, porém não partilha das raízes profundas de um relacionamento, seja familiar, entre amigos, namorados ou entre marido-mulher.

Essa forma de contato interpessoal, no entanto, não parece satisfazer as pessoas, dado que a sensação de vazio e solidão é uma queixa constante em consultório, mesmo entre pessoas comprometidas. Há uma espécie de falta de tempo para a profundidade afetiva! A quantidade simplesmente não resolve nesse campo dos relacionamentos.

É necessário se conscientizar para agir e viver no mundo da pressa, e ter coragem de abdicar de uma parcela do sucesso, que embora tentador, pode também acelerar o fim da vida.

(Luciana Campaner é psicóloga clínica e mestre em Neurociências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). Site: www.inbio.com.br. E-mail: inbio@inbio.com.br)
LONGEVIDADE

2 comentários:

♕Miss Cíntia Arruda Leite ღ disse...

Passando rapidinho para desejar uma semana iluminada!!

bjks

Lucia Fontes disse...

Belo artigo! Fico me perguntando se essa falta de tempo para conhecer, ouvir e ser ouvido pelo outro não pode ter o nome de MEDO. Medo de ouvir, porque ouvir significa, além de prestar atenção no outro, prestar atenção em si mesmo, e isso dá medo. Medo de amar, porque para amar verdadeiramente alguém é preciso amar a si mesmo, e isso dá medo. Liz Friedman diz: if you really want to do something, you do it... you don't save it for a sound bite. Ou seja, a falta de tempo para profundidade afetiva é, como sempre, uma desculpa. Porque se queremos mesmo fazer uma coisa, vamos lá e resolvemos. Acabo de concluir, por experiência própria, que não existe falta de tempo para o outro, para amar. Existe falta de vontade, que pode (ou não) vir do medo. Medo de ter que bagunçar toda a rotina para encaixar uma pessoa em nossas vidas. Uma pessoa que pode trazer alegrias imensas, um prazer incontrolável, uma vontade de voar, cantar e de iluminar o mundo que chega a assustar. E o medo nos faz perder tudo isso. Não somos loucos? Deveríamos ter medo de não amar, isso sim!