A idade e a mudança - por Lya Luft
10 de março de 2010
4 comentários
Mês passado participei de um evento sobre o Dia da Mulher.
Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades.
E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi.
Foi um momento inesquecível...
A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.
Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?'
Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'. Estão todos em busca da reversão do tempo.
Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.
Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada.
A fonte da juventude chama-se "mudança".
De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora.
A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas.
Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.
Mudança, o que vem a ser tal coisa?
Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho.
Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.
Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.
Rejuvenesceu.
Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol.
Rejuvenesceu.
Toda mudança cobra um alto preço emocional.
Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza.
Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.
Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.
Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho.
Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.
Olhe-se no espelho...
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4 comentários:
Silvia,
Que maravilha de texto!
Esta mulher é uma pessoa lúcida e extremamente cheia de vida ainda, muito mais que certas jovens que conheço.
Vamos nos mirar neste exemplo.
beijinhos cariocas
Beleza de texto! Seria maravilhoso se toda mulher fosse notada, aplaudida e paparicada pelo que é, e não graças a juventude conquistada pela grana depositada na conta do cirurgião! Pelo que ela é: sua sabedoria de vida, sua capacidade de mudar a cada etapa da vida e assim permanecer ativa, alegre,disposta...
Bom fã de carteirinha dessa moça linda aí acima, eu fico encantada com a poesia que ela tem por dentro sem esforço algum.
E com certeza está certissíma.O brilho de uma pessoa é que a determina não importa se ela tenha 20 ou 120.
Ás vezes alguns deixam esse brilho apagar, outros concentra um sol nos olhos e a fonte da juventude é bem por aí.
Silvia amiga, amei o texto.
bjinho
Silvia!
A Lya me deu aulas de Linguística nos 3º e 4º semestres. Ela é demais!
Bjs!
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