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Espelho, espelho meu, quem é mais velha do que eu? Por *Dorli Kamkhagi

9 de abril de 2010 13 comentários
Muitos pacientes me relatam a experiência de sentirem que o mundo deixou de olhar para eles. A vivência é de um despertencimento

Esta tem sido a indagação de muitas mulheres ao se olharem no espelho. O conto infantil de "A Branca de Neve e os Sete Anões" combina bem com a realidade que estamos assistindo: um triste e doloroso reconhecimento da dificuldade em aceitar o envelhecimento.

Embora exista muito assunto em torno da longevidade, uma propaganda sobre ser este o momento em que a pessoa está mais livre para decidir sobre as suas escolhas, o vazio que fica no reflexo do espelho é enorme. Estou falando de algo muito profundo que é o olhar da sociedade, ou melhor, o não-olhar aos que envelhecem.

Muitos pacientes me relatam a experiência de sentirem que o mundo deixou de olhar para eles. A vivência é de um extremo despertencimento de si-mesmo, como se deixassem de existir. Sabemos que o olhar dos outros nos mantém vivos e alimentados, na nossa auto-estima, no nosso reconhecimento como indivíduos. Então, a experiência que algumas pessoas vivem, sentindo que estão à margem, é muito difícil.

Agora, voltando ao título desta coluna, como será que nos sentimos frente a este espelho que em nossa solidão nos reflete aquilo que tanto tememos? A escritora e feminista Simone de Beauvoir, que fez um tratado sobre a velhice, citou o autor francês Rochefoucauld: “É impossível olharmos direto para o Sol, assim como para a velhice”.

Como podemos pensar em harmonizar este tempo que cobra um lugar, uma passagem e que naturalmente exige um pagamento? Como pensar em contabilizar as alegrias, as histórias, os lugares que tivemos o privilégio de viver? Será que termos construído uma história e termos tido tantas oportunidades não torna “o envelhecer” um pouco mais confortável?

A imagem que o espelho nos reflete talvez não possa ser modificada (lógico que temos toda a tecnologia para auxiliar a aparência física), porque são as nossas verdades que não deveríamos esconder de nós mesmos. Elas podem ser o produto do trabalho de reconhecermos a nossa vida, o corpo que nos acompanhou por toda a existência e, talvez, um agradecimento pela oportunidade de podermos ver que, além de nós, existe uma geração mais jovem e bela: nossos filhos e netos.

Este novo olhar nos permite transformar aquilo que parece tão terrível e ameaçador em algo muito lindo e importante.

*Dorli Kamkhagi é mestre Doutora em Psicologia Clínica e mestre em Gerontologia pela PUC-SP e psicóloga do Centro de Estimulação Cognitiva e Funcional do Idoso do Programa de Psicogeriatria do Hospital das Clínicas. E-mail: dkamkhagi@ig.com.br


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13 comentários:

Sônia Silvino (CRAZY ABOUT BLOGS) disse...

Envelhecer não é nada fácil, mas só envelhece que vive bastante. Aceitar numa boa é que são elas!!!
Bjkas!

Misturação - Ana Karla disse...

As vezes me pego pensando nesse assunto e até me assusto, mas não posso fugir do óbvio e concordo plenamente que quando fazemos história o envelhecer vem mais tranquilo.
Adoro ver cada ruguinha nova que aparece em meu rosto. Apesar de ter alma de criança(rs), percebo assim que estou amadurecendo.
Adorei o texto.
xeros.

welze disse...

DESPERTENCIMENTO, senhordagloria. que palavrão. mas quanta coisa correta, oportuna e certa contida nessas letras. nunca havia pensado no despertencimento do mundo em relação a mim, sendo eu tão cheia que quereres e poderes. mas a verdade é que, para mim, o mundo não nos pertence quando deixamos que isso aconteça. quando já não nos temos. tudo bem que um dia a gente não esteja lá aquelas cocacolas todas, mas é assim mesmo. Até as mais mais tem seu dia de menos menos. o que não pode acontecer é parar de se ter e de se amar e se pertencer. boa semana meninas, que o futuro também à nós pertence

Tati disse...

Este problema em aceitar a velhice é muito mais cultural do que fisiológico. Talvez esteja na hora de aprendermos com culturas milenares, com índios e indianos e outras tantas culturas que valorizam os mais velhos por terem "a sabedoria". Só temos a ganhar com isso. Principalmente por que, se tivermos sorte, seremos os idosos de amanhã.
Beijos.

Silvia Masc disse...

Sônia, se envelhecer é inevitável, temos 2 opções, aceitar ou não, o não aceitar só irá nos trazer mais problemas.

beijinho

Silvia Masc disse...

Welse, mais que o palavrão, é o sentido do que ele representa aos idosos, ninguém um dia é gente e depois que envelhece se transforma em poste.
beijinho e obrigada pelas suas palavras.

Silvia Masc disse...

Ana, que bonita a sua aceitação do fato... eu tb. curto as minhas marcas.

beijinho

Silvia Masc disse...

Tati o nosso post de segunda feira, será exatamente sobre isso, Sobre a maneira que o oriente enxerga o idoso.

beijinho e obrigada pela visita e comentário.

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Silvia,
O texto é muito bonito. Realmente deve ser muito dolorido esse "despertencimento". E a visão da velhice no espelho, também é difícil.
Mas todos precisamos aprender, porque se estamos vivos, fatalmente envelheceremos.
Beijos.

Leci Irene disse...

Bom dia,meninas!
Olha, nada é fácil... porém, nada é tão dificil qto parece. Tenho medo de me olhar no espelho, já agora, pq de vez em qdo tenho que cobrar: "Vem cá, ó gente, pergunta de velho ninguém responde?"

Silvia Masc disse...

É verdade Heloisa, a vida é um presente.

beijinho

Silvia Masc disse...

Oi Leci, e deveriam responder não é?
Vamos por aqui "brigando" para qiue isso aconteça.

beijinho

Beth/Lilás disse...

Silvia, querida!
Pois também penso como as demais pessoas acima, viver não é fácil, mas é preciso e quando se cultiva o amor, nunca ficamos sozinhos nem despercebidos.
Conheço algumas pessoas idosas, altamente atraentes, boas de papo e interessantes, mais até do que muitos jovens por aí.
bjs cariocas