1.o Colocado "LONGEVIDADE HISTÓRIAS DE VIDA BRADESCO SEGUROS" 2012

Sou daquele tempo... - Enviado por A. Kremnitzer - (bom domingo à todos)

6 de novembro de 2010 comente
Parte I


Eu sou de um tempo distante, o chamado tempo do onça, tempo em que qualquer máquina era uma geringonça.
Sou do tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça, que aos domingos a gente ia à missa.

Trago lembranças bacanas das Casas Pernambucanas, das farras no bonde aberto, dos chapéus da Casa Alberto.
Tempo em que adultério era crime e o Flamengo ainda tinha time.
Do busca-pé, do rojão, sou do tempo do xarope São João.
Venho do tempo em que menino só gostava de menina, tempo do confete e serpentina nas festas de Carnaval do Sírio, do Monte Líbano, dos bailes do Municipal.
Sou do tempo do bicarbonato, do lançamento do Sonrisal.
Sou do tempo em que futebol era pra macho, em que ninguém sossegava o facho nos bailes de formatura, dos play-boys botando banca.
Tempo quando o telefone era preto e a geladeira era branca.
Sou do tempo em que se confiava nas companhias aéreas, em que a penicilina curava as doenças venéreas.
Sou do tempo da Rádio Nacional, do lança perfume no Carnaval, do calouro na hora da peneira.

Tempo em que pó era o mesmo que poeira.
Tempo do terno risca de giz, da calça de boca apertada, da Lapa de Madame Satã, de poder ir torcer no Maracanã e lembrar da mãe do juiz.
Sou do tempo do Dói-Codi, do comigo-ninguém-pode, da ditadura envergonhada.
Sou do tempo em que ficar era não ir.
Tempo de permitir passeios à beira-mar.
Tempo de se curtir a vida sem medo de bala perdida.
Tempo de respeito pelos pais, enfim, sou de um tempo que não volta mais.

Parte II

Sou do tempo da brilhantina do laquê, da Glostora, do Gumex, o correio não tinha Sedex e o que vinha era telegrama trazendo uma má notícia.
Sou do tempo em que a polícia perseguia todo sambista que tivesse alguma fama.
Tempo em que mulher é que usava brinco, em que as portas não tinham trinco e que se dizia demorou só pra quem chegasse atrasado.
As calças não perdiam o vinco, picada era só na bunda se aquela febre profunda não tivesse melhorado.
No meu tempo coca era refrigerante
e todo homem elegante abria a porta do carro.
Aceitava-se qualquer cigarro sem medo de ser um novo fato.
Só preço podia ser barato, bicho era só o animal, cara, o rosto do pobre mortal.
Sou do tempo do tergal, do ban-lon, do terilene, da Emilinha e da Marlene no sucesso musical.
Sou do tempo do mocinho e o vilão com cara de mau, do reclame de fortificante do óleo de fígado de bacalhau.
Sou do tempo do coreto e da banda, do velho cigarro Yolanda vendido na venda da esquina.

Sou do tempo da estricnina, veneno tão poderoso.
Sou do tempo do leite de magnésia, do sagu, do fubá Mimoso, do fosfato que curava a amnésia.
Sou do tempo da cocoroca do tempo da Copa Roca que muita gente não viu.
Do progresso tão abrupto que todo mundo assistiu porém, político corrupto, o rato que sai da toca...
Ora! Esse sempre existiu!

Parte III

Sou do tempo em que Benjor se chamava Jorge Bem.
A carne do bife era acém, ração de cachorro era bofe.
No meu tempo começou o estrogonofe.
Sou do tempo do tostão e do vintém, quando contavam sobre a zona com seus bordéis e programas de dez mil réis.
Sou do tempo da Cibalena e do Veramon.

No dentista via a revista Fon-fon, assistia filmes do Rin-tin-tin.
Sou do tempo da confeitaria Manon, da magia, do pó de pirlimpimpim.
Colecionei estampas Eucalol. Acompanhei o lançamento da Avon, tomei o fortificante Calcigenol.
Sou do tempo da PRK 30, do rádio tipo capelinha, dos contos da Carochinha
do remédio que era anunciado, assim:
"Veja ilustre passageiro
O belo tipo faceiro

Que o senhor tem a seu lado
Mas, no entanto, acredite,

Quase morreu de bronquite,
Salvou-o o Rhum Creosotado".

Sou do tempo da Cafiaspirina, da compressa de antiflugestina, do bálsamo de benguê.
Fui leitor do almanaque Tico-Tico,

tempo em que trabalhador ficava rico.
Sou do tempo da Casa Cavê, do taco com cera Parquetina, dos discursos do Presidente Gegê.
Sou do tempo do óleo de linhaça, andei na Maria Fumaça.
Li muito a revista Cruzeiro, escrevi com caneta- tinteiro.
Separei o joio do trigo, vi muito vigarista na cadeia.
Só não fui garçon da Santa-Ceia.
Também não sou assim tão antigo.

Desconheço o autor (ou autora).

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