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Envelhecer - Entrevista com o geriatra Luiz Roberto Ramos, diretor do Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp
14 de maio de 2012
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Entrevista com o geriatra Luiz Roberto Ramos, diretor do
Centro de Estudos do Envelhecimento da Escola Paulista de Medicina e coordenador
do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp)
Como o senhor analisa o rápido crescimento da população
idosa no Brasil?
Qual é a idade média do idoso brasileiro?
A idade média do brasileiro hoje está em 75 anos. As
mulheres vivem sempre um pouco mais que a média, os homens sempre um pouco
menos. Podemos dizer que o brasileiro ganhou nos últimos 50 anos quase 30 anos
a mais de vida. Essa é uma equação complicada, porque mexe com o planejamento
de vida das pessoas. Em pouco tempo, as pessoas passam a administrar 20, 30
anos a mais de vida e isso tem uma série de implicações até para o sistema da
Previdência Social.
Quem é o idoso brasileiro? Como identificar essa população?
Do ponto de vista demográfico, chamamos de idosas as pessoas
com mais de 60 anos. Alguns países da Europa mais desenvolvidos identificam o
idoso com mais de 65 anos. Na Escandinávia, por exemplo, um idoso é um
individuo com mais de 70 anos, porque muitas pessoas atingem essa idade em boas
condições de saúde, fazendo com que as peculiaridades da velhice fiquem sendo
empurradas para frente.
Então o parâmetro nesse caso é a saúde?
O parâmetro é a conservação das pessoas. Em países como a
Suécia eles estão preocupados com a população com mais de 70 anos, embora você
possa dizer que uma pessoa com mais de 60 é idosa. Eles identificam a população
de atenção com mais de 70 anos. No Brasil, a gente ainda trabalha com a noção
de que idosos são os indivíduos que têm mais de 60 anos e que hoje representam
cerca de 10% da população, ou seja, 15 milhões de pessoas.
O que nos preocupa é que em menos de 10 anos essa população
vai dobrar e nós vamos ter 30 e tantos milhões de idosos no Brasil. Aí sim, vai
ser uma população grande, uma das maiores do planeta, e que vai ter que ser
cuidada.
Quais são os estigmas relacionados aos “velhos”?
O único jeito de você não ficar velho é morrer cedo, então
essa inevitabilidade tem um lado positivo. Os brasileiros estão vivendo mais,
mas todo mundo recusa um pouco a ideia de envelhecer porque associa
envelhecimento com decrepitude, no sentido das pessoas ficarem fragilizadas e
principalmente se tornarem velhos dependentes e incapazes de tocar a sua
própria vida.
Algumas pessoas vão envelhecer com perda funcional e
consequentemente vão se tornar dependentes no dia a dia, mas elas são a
minoria. A grande maioria das pessoas envelhece capaz de administrar a própria
vida. No entanto, a gente tem que ter presente que a ocorrência de doenças
crônicas é quase que inevitável ou seja, após os 60 anos a grande maioria das
pessoas vai ter pelo menos uma doença crônica, seja pressão alta, diabete,
catarata, um problema cardíaco.
Mas isso não quer dizer que ela vai ser uma pessoa limitada,
dependente. Significa sim, que ela vai ter que administrar diariamente uma ou
mais doenças crônicas que são inevitavelmente desenvolvidas na medida que os
anos passam. O que é evitável é o individuo perder função, perder capacidade de
tocar a vida de forma independente.
Esse é o foco principal das pesquisas que a gente realizou
durante todos esses anos, ou seja, saúde na velhice é a manutenção da função
suficiente para o individuo ter uma vida independente, autônoma. Esse é o novo
conceito de saúde.
Aquele idoso que vive sozinho, que se vira sozinho.
Ele é capaz de viver sozinho porque ele consegue realizar as
atividades que todo mundo faz, como se vestir, tomar banho, comer, fazer
compras, cuidar das finanças, enfim, manter a sua casa e a sua família sem
precisar de ajuda específica de ninguém. Esse indivíduo pode ter várias
doenças. Tenho uma conhecida, a dona Clemência, que tem 90 anos e mora sozinha.
Toma seus remédios, mas não depende da família para a própria sobrevivência.
Eu costumo dizer que viver sozinho na velhice, não é para
quem quer, é para quem pode. É uma conquista você poder depois de uma certa
idade, ter capacidade funcional suficiente para viver sozinho. Dá para você ser
saudável na velhice e, ao mesmo tempo, tomar remédio para pressão, diabete, e
isso não comprometer a sua saúde global.
Qual a receita para um envelhecimento saudável?
Primeiro, se manter ativo é uma grande ajuda para todas as
pessoas depois da suposta idade da aposentadoria. A outra coisa é o próprio
“viver sozinho” que estimula o indivíduo a se manter independente e capaz de
realizar tudo que ele precisa durante o dia. E terceiro, ter claro o benefício
de fazer atividade física. Um bom exemplo de manter a saúde funcional é
permanecer ativo do ponto de vista laboral e do ponto de vista físico e mental.
O mercado de trabalho no Brasil está aberto à terceira
idade?
Ainda não da mesma forma que se observa na Europa, onde já
existem políticas bastante explícitas de recontratação e pessoas aposentadas
podem ter determinadas funções que não demandam muita agilidade física, mas
demandam comprometimento. É um mercado que se abre para idosos.
No Brasil, algumas áreas já identificam nos idosos pessoas
mais confiáveis, com responsabilidade maior nas suas funções e que, portanto,
atrairiam contratações apesar da idade e do fato de já serem aposentados em
outras funções. Mas acho que é uma coisa que o Brasil vai precisar desenvolver
mais. É um campo de trabalho para pessoas que já se aposentaram em alguma
função e que ainda tem condições físicas e mentais de servir a sociedade.
Quais são os direitos dos idosos no Brasil?
Existe um Estatuto do Idoso bastante desenvolvido, com uma
série de direitos nem sempre acessíveis a todos, pelo menos no momento. Nós
vivemos num país com problemas econômicos, desemprego. Nessa disputa é óbvio
que os idosos que necessitem de uma atividade laboral para fins econômicos
certamente vão ter alguns problemas, porque esse mercado não está desenvolvido.
Agora, a própria necessidade de precisar trabalhar nessas idades
já coloca esses indivíduos em uma situação de mais risco, porque eles
certamente vêm de uma situação carente já de mais tempo. Mas o ideal é que as
pessoas se mantenham ativas, sem a premência econômica, ou seja, terem uma
aposentadoria mínima para poderem viver e trabalhar para melhorar essa situação
e não como única alternativa.
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