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Você tem medo do que?
12 de julho de 2014
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Envelhecer tem muitas vantagens. Mas, muitas vezes, sem
aviso prévio, bate aquela tristeza por estar sozinho, receio de morrer sozinho
ou de não pertencer mais a esse mundo tal como ele se apresenta na atualidade.
E o que poderia ser encarado como um medo, uma ansiedade normal, acabar virando
um transtorno, o transtorno do pânico, também conhecido como síndrome do pânico
- que na população idosa tem algumas características particulares.
“O envelhecimento e a sensação de impotência em relação ao
que não dominamos podem ser gatilhos poderosos. A sociedade exige um nível de
atualização que as pessoas mais velhas podem não conseguir acompanhar. Um
exemplo é o emprego da tecnologia. Aparelhos eletrônicos estão por todos os
lados. Em portas de bancos, em caixas eletrônicos, sistemas de pagamento e
meios de comunicação. As pessoas mais velhas sentem-se intimidadas e impotentes
diante de tantas regras novas.
Quando começam a se adaptar, os aparelhos e as regras mudam,
o que dá a sensação de não conseguirem acompanhar os mais jovens e de estarem
'ficando pra trás', explica Alexandre Caprio, psicólogo
cognitivo-comportamental.
Para Ururahy Barroso, médico psiquiatra e psicoterapeuta, a
Síndrome do Pânico pode se manifestar após os 60 anos por diversos motivos.
“Pode ser porque, durante a vida, a pessoa esteve envolvida
com muitos fatores externos e, a partir de uma certa idade, ela começa a se voltar mais para
si mesma. Sem contar que a partir dos 60 anos ocorrem muitas perdas e algumas
pessoas não estão educadas emocionalmente ou têm inteligência emocional baixa,
apesar da idade, para lidar com perdas, frustrações, conflitos, aflições,
adversidades e contrariedades, que são as maiores fontes de transtornos
emocionais”, diz.
“O Transtorno do
Pânico é caracterizado por ataques recorrentes e imprevisíveis de ansiedade
grave, em circunstâncias diversas, sem que haja riscos ou perigos reais. Dores
no peito, taquicardia, formigamentos, tonturas, tremores, náuseas, sensação de
morte iminente, em geral por ataque cardíaco, medo crescente de perder o
controle e de enlouquecer são sintomas comuns”, explica Maria Lúcia Madureira,
psicóloga e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.
Como tratar
O primeiro passo é a informação. O ataque é causado,
basicamente, pela sensação de impotência, de incompreensão em relação ao que
está acontecendo dentro de si mesmo. Saber que é um mecanismo de defesa e
entender porque o coração e respiração aceleram, assim como as verdadeiras
causas da tontura, náusea, transpiração e outros sintomas, é um grande passo.
“É como acender a luz de uma sala onde, antes, a escuridão e
o desconhecimento pareciam tão ameaçadores”, diz o psicólogo Alexandre Caprio.
Ainda de acordo com Caprio, a Terapia Cognitivo-comportamental tem alto grau de
eficácia nesse processo. “O paciente aprende a respeito de si mesmo e percebe
que o Ataque de Pânico não se sustenta sozinho. Compreender que nosso corpo
está apenas tentando nos proteger de um estímulo aversivo também destrói uma
boa parte da tensão”, explica.
Mas esse é só o começo do trabalho, alerta o psicólogo: o
verdadeiro vilão ainda está escondido. “São as crenças e os pensamentos que
transmitem a ordem de ameaça ao cérebro e organismo. O processo terapêutico tem
como objetivo identificar as crenças que levam o indivíduo a ter medo das
coisas que acontecem em sua rotina e confirmar sua autenticidade. Em resumo, o paciente
revisa seu ponto de vista em relação a si mesmo e ao mundo em vez de continuar
dando crédito a seus erros cognitivos”, diz.
Sem a ordem de ameaça, continua Caprio, o corpo se desarma,
e o transtorno passa a ser controlado.
“Tanto em terapia como fora dela,
técnicas de relaxamento são indicadas. Mas o relaxamento não funciona se o
pensamento causador de todo o mal não for confrontado. Mesmo assim, se o ataque
começar, o indivíduo ainda pode bloqueá-lo desacelerando a respiração. A
sensação de estar sufocando torna essa tarefa relativamente difícil, mas não
impossível. Se a entrada de oxigênio for controlada, as funções do corpo são
restabelecidas vagarosamente, e os efeitos principais passam.”
Os 8 passos para se acalmar
A psicóloga e especialista em Terapia
Cognitivo-Comportamental, Mara Lucia Madureira, lembra de oito passos para lidar com a ansiedade. “A chave
para lidar com um estado de ansiedade é aceitá-la totalmente. Permanecer no presente e
aceitar sua ansiedade
a faz desaparecer. Para lidar com sucesso com a ansiedade,
você pode utilizar a estratégia “A.C.A.L.M.E-S.E.”, de oito passos. Usando-a,
você estará apto a aceitar sua ansiedade até que ela desapareça”, explica
:: 1 - Aceite sua ansiedade. Um dicionário define aceitar
como dar “consentimento em receber”. Mesmo sem gostar muito, dê-lhe boas vindas
como você daria a um hóspede inesperado e desconhecido. Não lute contra ela.
Substitua seu medo, raiva e rejeição por aceitação
:: 2 - Contemple sua ansiedade. Olhe para ela sem
julgamento: nem boa nem má. Apenas observe-a e avalie-a em uma escala de 0 a
10. Observe-a aumentar e diminuir
:: 3 - Aja com sua ansiedade. Normalize a situação. Aja como
se você não estivesse ansioso, isto é, funcione com ela. Diminua o ritmo, a
velocidade com que faz suas coisas, mas mantenha-se ativo!
:: 4 - Libere o ar de seus pulmões bem devagar! Respire
calmamente, inspirando pouco ar pelo nariz e expirando longa e suavemente pela
boca. Não sopre, apenas exale o ar lentamente.
:: 5 - Mantenha a atitude e os passos anteriores. Repita os
passos um a um. Continue a: 1) aceitar sua ansiedade; 2) contemplá-la; 3) agir
com ela, e 4) respirar calma e suavemente, até que a ansiedade diminua e atinja
um nível confortável.
:: 6 - Examine seus pensamentos. Você deve estar antecipando
coisas catastróficas. Você sabe que elas não acontecem. Examine o que está
dizendo e pondere para ver se pode ser verdade.
:: 7 - Sorria, você conseguiu. Merece todo o crédito e todo
o reconhecimento. Conseguiu sozinho com seus próprios recursos. Não é uma
vitória, pois não havia um inimigo, apenas um visitante de hábitos estranhos
que você passou a compreender e aceitar. Agora saberá como lidar com visitantes
estranhos.
:: 8 - Espere o melhor. Livre-se do pensamento mágico de que
você terá se livrado definitivamente de sua ansiedade, para sempre. Ela é
necessária para você viver e continuar vivo. Em vez disso, surpreenda-se pelo
jeito como você a maneja, como acabou de fazer. Esperando ansiedades no futuro,
você estará em uma boa posição para lidar com ela novamente.
Fonte: Estratégias cognitivo-comportamentais para lidar com
a ansiedade (Beck, Emery & Greenberg). Adaptação de Bernard Rangé (1985)
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